Quando se viaja para um destino paradisíaco, para um hotel de 5 estrelas com tudo incluído, ninguém espera encontrar uma falha de higiene grave. Os copos que servem milhares de pessoas não são lavados.
Num regime tudo incluído, num destino de praia, o calor potencia um maior consumo de bebidas. Há os que abusam e os que apenas querem uma bebida refrescante para apreciar na praia ou na piscina.
São centenas de pessoas por hora a solicitar bebidas quase 24 horas por dia. e os copos nem sempre têm o tratamento de lavagem adequado. Neste caso, o relato foi presenciado e filmado pelo Faktual, no hotel Bahia Principe Punta Cana, um dos hotéis que compõem o leque de oferta desta cadeia hoteleira na República Dominicana. A prática foi reiterada ao longo de duas semanas.
Apesar de todos os viajantes quererem “desligar” e ver apenas o lado solarengo do paraíso, quando se observa com atenção, é possível questionar, por exemplo, como conseguem tratar uma quantidade de copos tão grande? Principalmente quando se está numa fila para conseguir uma bebida e a principal razão da espera é a falta de copos.
Nos bares da praia (e mesmo no restaurante junto à mesma, que serve de apoio a todos os hóspedes que pretendem almoçar nestes espaços) os copos têm uma solicitação muito grande. É comum ver cidadãos americanos ou canadianos utilizar canecas próprias, compradas localmente nas lojas ou a vendedores na praia. A primeira ideia que surge é que gostam de ter sempre copos cheios em versão XXL.
No entanto, quando se começa a ver que muitos copos são usados como cinzeiros, na praia, ficam cheios de areia e são recolhidos em baldes de plástico com aspeto sujo, os hóspedes acabam por ficar mais atentos para o percurso que estes copos vão fazer até chegar à boca do próximo utilizador (sim, porque as palhinhas foram abolidas). Principalmente quando se viaja com crianças (o que abunda neste destino).
Tratou-se de uma situação isolada para a qual já foi solicitada uma auditoria interna.
Fonte oficial Bahia Principe
As imagens que constam neste vídeo mostram como as coisas se passaram em fevereiro mas que, pela forma ágil como se processa, aparenta ser a regra. Aliás, questionados diretamente alguns dos empregados do hotel (pergunta feita como hóspede e não jornalista), a resposta é clara quando afirmam que sim, “este é o processo normal para recolher os copos”. No entanto, num dos restaurantes, quando um dos empregados foi confrontado com a questão, negou e garantiu que “os copos são sempre lavados numa máquina antes de voltarem a ser colocados ao serviço”. Se assim não fosse, acrescenta, “seria muito grave”.
No entanto, daquilo que foi possível observar, as coisas correm de forma bem diferente. Os copos são passados por água em dois recipientes pequenos, desconhece-se a frequência com que a água é trocada, e colocados ao serviço de imediato.
Tal como se pode verificar pelas imagens do vídeo, as pessoas aguardam para ser servidas e, na maior parte das vezes, a demora esteve sempre relacionada com a falta de copos. O vídeo foi gravado em fevereiro de 2019. Os copos, de plástico, quando chegavam, ainda a escorrer água (supostamente da lavagem) deixavam sempre dúvidas sobre o nível de limpeza. A alternativa, recorrer a canecas próprias.
Bahia Principe pede auditoria
Contactada pelo Faktual para comentar esta situação, fonte oficial da cadeia Bahia Principe, do grupo Piñero, respondeu por escrito para afirmar que “se tratou de uma situação isolada para a qual já foi solicitada uma auditoria interna, uma vez que não está alinhada com a política de saúde e segurança” do grupo.
Na resposta enviada, a mesma fonte assegura ainda que o protocolo específico “no que respeita aos copos é que estes têm de ser completamente limpos antes de cada utilização”. “Temos um sólido registo de conformidade para essa e outras medidas com base em auditorias externas realizadas mensalmente pela HS Consulting”, afiança fonte oficial.
Referindo-se a este caso, que considera “isolado”, a mesma fonte faz questão de reafirmar que o grupo hoteleiro está “firmemente comprometido com a saúde e a segurança dos hóspedes”.
Ao que o Faktual conseguiu apurar no local, atrás dos balcões, os empregados utilizam garrafas de plástico ou embalagens tetra pak cortadas ao meio para servir de copo pessoal. Quando questionados sobre a razão, nenhum dos empregados respondeu. Mostraram-se apenas curiosos para perceber a razão da pergunta. E a conversa terminava ao saberem que do outro lado estava um jornalista com curiosidade sobre o assunto.
O paraíso das Caraíbas
Perante esta situação, será importante realçar que não está em causa o serviço do hotel como um todo. Integrado numa paisagem paradisíaca bem cuidada e, de acordo com a política do hotel, com práticas apertadas no que respeita à proteção do ambiente.
Apesar de não ter sido possível verificar os bastidores das cozinhas, percebe-se que existe um grande cuidado com a limpeza dos espaços e controlo da qualidade. Nas áreas de refeições mas também na generalidade das instalações.
Mesmo na praia existe uma equipa a trabalhar constantemente para manter a areia limpa de lixo deixado pelos turistas e de algas que, em algumas épocas do ano, dão à costa.
No entanto, este paraíso pode ficar comprometido por causa de uma doença contraída através de um copo sujo e contaminado. Vírus e bactérias encontram nos copos um transporte privilegiado até ao próximo hospedeira. Herpes, hepatites, ou vírus responsáveis por doenças que afetam os intestinos são bastante comuns e facilmente transmitidos, principalmente através de um copo mal lavado.
Os casos das mortes
O Faktual tentou ainda abordar a questão das mortes recentes verificadas neste destino de férias, mas fonte oficial fez questão de separar bem estes dois temas. Recorde-se que além dos cidadãos americanos que morreram devido a causas ainda em investigação (sendo as mais prováveis bebidas adulteradas) recentemente uma cidadã portuguesa esteve internada devido a problemas de saúde idênticos.
No entanto, de acordo com a imprensa, foi diagnosticada uma miocardite, uma inflamação do músculo do coração que pode provocar arritmias e insuficiência cardíaca.
Esta inflamação do músculo cardíaco pode ser provocada por uma infeção viral. A suspeita recai sobre o gelo das bebidas servidas nos hotéis que alegadamente estará a ser feito com água não tratada.
Vale a pena reforçar que o Governo português alertou os portugueses para terem cuidado quando viajam para este destino de férias.