Sempre que se inicia uma conversa sobre jornalismo, sobre a “teimosia” que tenho em manter uma aposta na profissão que escolhi, esta é a frase que surge da boca dos interlocutores. Na maioria, jornalistas.

Talvez seja da idade, talvez seja por teimosia ou apenas porque estou a pensar da forma errada, mas não estou preparado para desistir. A ERC, tem feito alguma pressão (algo que estará dentro das suas competências) para que faça prova do envio da cópia da “última edição impressa” para mostrar que existem publicações recentes e que o projeto está activo. Faz parte das suas competências, mas sabemos que há outras tantas que são mais graves e que sobre as quais pouco ou nada se faz.

Por isso, quando me dizem para desistir, com aquele tom de voz de quem está a falar com um doido á beira do precipício, fico ainda com mais vontade de continuar a apostar naquilo em que acredito. Afinal, todo o investimento que tenho feito está perdido e de nada vale fechar a porta antes de tentar tudo. E, neste momento, falta apenas continuar a insistir na expectativa de que o tempo venha a dar-me razão.

É preciso começar a unir esforços para deixar de esbracejar na areia movediça e criar uma corrente que consiga recuperar os jornalistas, o jornalismo, a credibilidade e a honra da profissão.

Falta uma união, vontade, crença de outros jornalistas que queiram apostar na profissão. Acredito que, tal como eu, necessitam de uma fonte de receita que permita fazer face às despesas diárias. Afinal, os jornalistas também pagam contas, têm filhos na escola e apesar de muitas vezes o trabalho nem permitir parar para almoçar, precisam de se alimentar. Ficam doentes e precisam de dinheiro para médicos, exames e medicamentos. Afinal, os jornalistas também são pessoas, cidadãos.

 

Jornalismo em extinção?

Mas quem lê notícias, quem beneficia de uma imprensa livre e isenta (coisa que começa a ser cada vez mais rara e difícil de praticar na actualidade) também tem de perceber que tal como pagam para comer um bife, ou uma alface (para os vegans), também é preciso pagar para manter o jornalismo de qualidade.

Não tem sido assim. É cada vez menos assim. As pessoas lêem o que lhes passa nas redes sociais sem ligar ao nome do site que publica, na maior parte das vezes verdadeiras aberrações, mentiras. Pensam que estão a ler de borla, não estão. O preço que pagam é mais alto do que pagariam para ter jornalismo sério e isento. Porque, é preciso não esquecer: não há almoços grátis!

Já o disse por diversas vezes, sem jornalismo sério, isento, sem projectos de jornalistas, sem ligações pouco claras aos grandes grupos económicos, jamais haverá uma verdadeira isenção. Todos os jornalistas sabem isso. Quem está numa redação sabe do que falo, quem já não está, também.

O jornalismo não é, nem pode ser, de esquerdas ou direitas. O jornalismo é uma missão em busca da verdade, pelo bem e defesa da democracia e liberdade de imprensa.

 

Como ganhar dinheiro?

O jornalismo já bateu no fundo. Agora, estamos a fazer o caminho abaixo da linha de água. Diariamente cavamos (os jornalistas) mais um pouco do buraco onde nos enfiaram, onde deixámos que nos enfiassem.

Todos precisam de uma fonte de rendimento, nunca é demais lembrar, mas também é bom lembrar que pode ser difícil mas o poder do jornalismo está nas mãos de quem escreve, de quem faz bom jornalismo. Como em tudo, será preciso lutar um pouco, será preciso esforço para combater os vícios, mas quando se alcançar a cura (que demorará mais ou menos tempo consoante o nível de união existente) tudo irá fazer sentido e o retorno surgirá.

Infelizmente, não possuo a fórmula mágica de como ganhar dinheiro sem ser com uma legislação dura que proíba o roubo descarado da informação original por dezenas de sites que ganham milhares com esta estratégia (promovida por Google e Facebook) e com o pagamento por parte de quem lê. “Nunca vais conseguir que as pessoas paguem para ler notícias”. Esta é a frase mais ouvida quando existem debates, conversas sobre a receita para tornar o jornalismo rentável. Discordo. Creio que tal como está, não haverá quem pague, mas é preciso mudar o paradigma. Tem de se começar por algum lado e a união dos profissionais, dos poucos que ainda continuam a acreditar, será o primeiro passo.

Depois, acredito mesmo que no dia em que as marcas sentirem que existe um jornalismo forte, vão querer estar presentes tal como já sucedeu no passado. Tal como hoje apostam sem qualquer racional nos influenciadores que por aí surgem. Pagam-se milhares, milhões, por “inserções” de 15 ou 20 segundos num vídeo feito por um miúdo. Tudo porque este apresenta um número substancial de seguidores. Não me canso de afirmar que ter muitos seguidores, ter muitas visualizações num vídeo é fácil. Basta pagar.

E as marcas sabem disto. Esta é a parte mais difícil de digerir. As marcas sabem que são enganadas. Os departamentos de marketing sabem que os investimentos que fazem nestas estratégias (na sua maioria) dão retorno negativo ou como se confirmou em alguns casos, retorno de 100 por cento, em prejuízo.

Mas o número nos relatórios é bonito e as administrações não questionam. Justifica-se toda esta perda como posicionamento. Pois bem, gostaria de ver esta estratégia de posicionamento com os orçamentos lá de casa. Aliás, vê-se muito, quando se olha para os dados de nível de endividamento das famílias e se percebe que, nalguns casos, se deve ao facto de terem adquirido carros de luxo, férias de luxo, na maior parte das vezes a crédito, quando o valor dos seus orçamentos mensais é inferior às prestações das dívidas contraídas.

Mais tarde ou mais cedo, tudo isto terá de mudar. Mas no que respeita ao jornalismo, a mudança tem de começar pelos próprios jornalistas. E tal como sucede com a urgência na proteção do planeta, há muito que passámos o ponto zero. Agora, é preciso começar a unir esforços para deixar de esbracejar na areia movediça e criar uma corrente que consiga recuperar os jornalistas, o jornalismo, a credibilidade e a honra da profissão. Eu, sou apenas um!