Quando todos falam com receio de um nova guerra mundial, já existe uma guerra dos media contra Donald Trump. Nas últimas semanas, na verdade, desde que se percebeu que Donald Trump seria o candidato dos Republicanos à Casa Branca, que os jornais, os media em geral, lançaram uma espécie de campanha contra aquele que é agora o 45º Presidente dos Estados Unidos da América.

Trump tem tiques de ditador (exemplo disso são as ordens executivas que assinou assim que tomou posse), assumiu a liderança do país que é o farol do mundo livre com ideias que assustam qualquer defensor da Liberdade, Democracia, Direito à própria vida. Mas, foi eleito pelo povo que nele votou.

Trump desafiou os media, e estes, tal como um adolescente faz quando é colocada a sua virilidade em causa, vai para a luta de olhos fechados, sem pensar.

Até agora, toda a campanha, a declaração de guerra aberta feita pelos media, só tem ajudado a que Donald Trump consiga fazer tudo o que se propõe. Os media estão mais focados no ataque, nas coisas mais mesquinhas, em vez de fazerem o trabalho de missão que lhes compete. De criarem a união que faz falta à profissão mas de forma natural.

Porque, para ser franco, quando leio a carta de declaração de guerra dos media, fico pasmado quando as propostas são aquilo que, enquanto jornalista, defendo ser a atitude natural da classe. Exemplo: Se um jornalista faz uma pergunta numa conferência de imprensa, e Donald Trump, ou qualquer outra pessoa, evitar a pergunta, ou responder de forma esquiva, se o tema for relevante, se a pessoa em questão ofender um jornalista, o jornalista seguinte deve insistir na pergunta, tal como todos os que estiverem na sala.

Isto, enquanto jornalista, é algo inato e não uma descoberta.

As redes sociais

Atualmente, e também graças à forma como a máquina de Trump soube dar resposta, com contra-informação nas redes sociais, enche-se a internet com fotos de comparações com a audiência na tomada de posse, fazem-se afirmações que se replicam e, mesmo sendo falsas, correm pelos mesmos circuitos das notícias de verdade. As pessoas ficam confusas, deixam de acreditar nos media, cai por terra o jornalismo.

E sem jornalismo forte, isento, independente, a democracia tende em desaparecer.

As notícias para as quais a sociedade civil e militar deveriam estar atentas, passam despercebidas no meio dos conteúdos de guerrilha.

Donald Trump é um “barão”. Tem dinheiro e influência no mundo económico e financeiro. Só isso explica o comportamento dos investidores. Um dos principais índices da bolsa de Nova Iorque, o Dow Jones Industrials, superou pela primeira vez a fasquia dos 20 mil pontos. A bolsa dos EUA sobe quase 10% desde a eleição de Donald Trump.

E isto é algo que vai contra todas as expetativas. Seria de esperar que os investidores, com receio de alguma instabilidade, recuassem. Isso não aconteceu e este record dos 20 mil pontos é assustador.


 

Com o capital do seu lado, a América pode mesmo vir a registar crescimento a curto prazo e os investidores acreditam nas medidas anunciadas por Trump, apesar de assustarem o mundo. Afinal. é preciso perceber que a influência deste índice Dow Jones é diferente daquilo que era há 10 anos. Mas, aquilo que mais deveria assustar, é a falta de foco dos media.

Trump venceu, numa eleição democrática, e tal como sucede em todas as democracias, é preciso manter a vigilância, para evitar um regresso aos regimes ditatoriais. Isso faz-se apenas com um jornalismo isento, focado, apoiado em factos.

Os factos existem, como as medidas já enviadas para o Congresso (extinção do Obamacare ou a construção do muro na fronteira com o México e a demagogia que serão os mexicanos a pagar a construção). O problema é que tudo isso acaba por ser ruído no meio das granadas informativas.

Os media divulgam estas medidas como verdades absolutas, com espanto, esquecendo muitas vezes o mais relevante: quem legisla é o Congresso dos EUA. No entanto, Trump, como já se viu, vai usar e abusar das Ordens Executivas, apontadas por muitos juristas como um poder ditatorial ao serviço do Presidente dos EUA.

A “pressão” popular, deve focar-se nos congressistas e numa vigilância permanente daquilo que pode resultar na imposição de uma ditadura nos EUA.

Ao ler estas listas de medidas assinadas por Trump, dá a ideia que o mundo parou. É grave, mas ainda há esperança que o Congresso perceba que não pode isolar os EUA do resto do mundo com tanta leviandade. Há esperança que a defesa da democracia prevaleça e que os americanos percebam que têm de travar estes ataques à Liberdade. Mas, para já, esse é um trabalho que compete aos americanos e o papel dos media é relevante mas tem de ser cuidadoso.

Trump, o lobo com pele de cordeiro

Quando todos pararmos para contar espingardas, corremos o risco de estar perante uma Terceira Guerra Mundial, incentivada por um Presidente dos Estados Unidos que defende a tortura, o isolamento, o impedimento da entrada de refugiados, a expulsão de imigrantes (esquece-se que os americanos são todos imigrantes). Vamos ficar reféns de mais um ditador, com acesso a armas nucleares e sem o menor respeito pela vida.

Estes são os factos que vão passar despercebidos no meio da troca de palavras. Enquanto isso, o mundo vai dividir-se entre os que apoiam o ataque cerrado a Trump, as multidões, a contagem de espetadores na tomada de posse, e os que vão olhando para o Presidente dos EUA como a vítima dos media. O tal lobo vestido de cordeiro que, quando menos se espera, impõe um regime ditatorial, sem pestanejar.

Porque, ao contrário do que sucedia anteriormente, quando o mundo contava com os EUA para “defender” a democracia, para assustar e manter sob controlo os ditadores que ainda lideram regimes em alguns países, e aqueles que, por toda a Europa, se preparam para um ataque feroz ao poder, agora começam a sentir que podem fazer o que lhes der na real gana.

A Europa

Na Europa as coisas vão também de rastilho em rastilho. Estamos todos preocupados com Donald Trump (sim, o mundo deve estar atento) mas, em Portugal e na Europa, esquece-se a prioridade daquilo que deve ser uma Europa livre de ditadores, de partidos extremistas que anseiam por chegar ao poder e impôr uma governação ditatorial, de terror, de perseguições políticas, raciais e religiosas.

Recuso desde já qualquer tentativa de politização deste editorial, tal como recuso qualquer tentativa de associarem o texto a uma defesa ou ataque a Donald Trump, mas vale a pena citar este artigo de opinião de Nuno Melo sobre o atual panorama que se vislumbra na Europa.

Nas afirmações do Eurodeputado, que basicamente assentam num elencar de factos, esta será uma das mais marcantes: “Na Hungria, o Jobbik – partido que defendeu um registo nacional dos cidadãos de origem judaica e venera Miklos Horty, presidente que colaborou com o regime nazi na deportação de milhares de judeus durante a Segunda Guerra Mundial – elegeu deputados ao Parlamento Europeu e representa 20,54 % do Parlamento nacional”.

Todos devemos estar atentos ao que se passa nos EUA, porque há implicações mais ou menos óbvias, mas mais relevante, será olhar para a Europa e fazer tudo, unir esforços, para evitar o regresso assustador de outro Holocausto.

É preciso não esquecer que os ditadores conseguem manter-se no poder porque tudo começa com o medo. O medo que a pessoa do lado me denuncie e vou preso, espancado ou morto; medo porque se me fizerem isso ninguém vai fazer nada.

Quando isto começa, quando em democracia uma maioria apoia e elege um qualquer regime com tiques ditatoriais, todos passam a ter medo abrindo espaço para que o ditador se instale.

E esta tendência de crescimento extremista europeu, assusta mais do que a construção de um muro nos EUA. Porque este é um muro que os americanos podem demolir ainda antes de ser construído.