Em Maio de 1966, um asno foi notícia por se ter vingado do dono, que lhe tinha batido uns dias antes. Em 1963, um macaco vindo do Ultramar pôs uma aldeia de Faro em alvoroço
Há uma velha máxima jornalística segundo a qual um cão que morda um homem não é notícias, mas o inverso sim. A primeira estória de hoje não é sobre um homem que mordeu um cão, mas um burro. Aconteceu na freguesia de Feirão, concelho de Resende, em Maio de 1966, e o caso foi noticiado pelo Diário de Notícias. Os protagonistas foram Manuel José e o burro da família, um animal que suportava “pacientemente as diabruras” dos filhos dos donos, mas que não aceitava ser reprimido.
Um certo dia, por “qualquer coisa insignificante”, o dono deu-lhe umas fortes palmadas nos quartos traseiros e gritou-lhe umas “palavras ásperas”. O burro, surpreendido, “inteiriçou as suas longas orelhas, virou a cabeça para trás e olhou fixamente o dono com filósofo desdém”, mas não relinchou, nem escoiceou.
Algum tempo depois, numa altura em que era encaminhado para o pasto, o burro “lançou a dentuça à mão e pulso do dono de cujos ferimentos sugava o sangue com feroz vingança”. Apanhado de surpresa e sofrendo dores fortíssimas, Manuel José gritou por ajuda. E gritou, e gritou, e gritou. Mas nem ninguém o socorreu, nem o asno lhe largou o pulso.
Aflito, Manuel José resolveu aplicar o mesmo castigo ao burro: mordeu-o no focinho. Sofrendo igualmente de fortes dores, o animal deu dois pares de coices, largou a sua vítima e desatou a correr. Manuel José pôde, finalmente, procurar ajuda. Mas quando a família tentava recuperar do susto, eis que o asno entra em casa, “de beiços arreganhados”, pronto a atacar quem encontrasse à sua frente.
Manuel José, a mulher e os filhos tiveram de esconder-se atrás dos móveis, que “o asno endiabrado despedaçava a coice”. A situação só acalmou quando o dono conseguiu apoderar-se de uma sachola, com a qual aplicou uma forte pancada na cabeça do burro, atordoando-o. Cambaleante, o animal dirigiu-se ao curral e deitou-se nas palhas, deixando finalmente a família em paz.
O Chico
Melhor sorte teve José Ferradeira, residente em Vale de Mouro, Estói, no concelho de Faro. No quintal, tinha um macaco, chamado Chico, que um seu vizinho, segundo sargento da Armada, tinha trazido do Ultramar. O animal estava preso a uma corrente, mas conseguia chegar às grades, através das quais crianças e adultos lhe faziam festas e davam guloseimas.
Um dia, porém, segundo conta O Século de 5 de Maio de 1963, o Chico conseguiu partir a corrente. José Ferradeira ainda tentou apanhá-lo, mas o macaco mordeu-o numa das mãos, “causando-lhe um extenso ferimento”. Sentindo-se totalmente livre, o Chico desatou a saltar de telhado em telhado, atravessou vários quintais, irrompeu por capoeiras a dentro, matando galinhas e coelhos, partiu vidros de janelas e árvores de frutos. Os habitantes da aldeia bem que tentaram apanhá-lo, mas ao fim do dia, o Chico ainda não tinha sido apanhado. Foi necessário pedir a intervenção da GNR para deter o macaco.
O Chico continuava nas suas diabruras, indiferente ao que se passava à sua volta. Mas para seu grande azar, acabou por entrar numa das dependências do posto da GNR, onde foi finalmente preso. José Ferradeira pôde, assim, recuperar o seu animal de estimação.