Em 1969, uma jovem natural da Madeira foi deportada depois de ter sido mãe sem ser casada
Chamava-se Maria Zélia Baptista, tinha 21 anos de idade e era natural da ilha da Madeira. Estava a trabalhar numa fábrica de malhas na ilha de Jersey quando, em Maio de 1969, foi mãe de um rapaz. O facto, por si só, não seria digno de notícia. Mas a jovem portuguesa não era casada o que, à luz do quadro jurídico em vigor naquele território, constituía um ilícito grave, e a pena era a deportação. Segundo o jornal O Século de 13 de Junho de 1969, todos os anos, eram repatriadas de Jersey 30 mulheres de nacionalidade estrangeira pelo mesmo motivo.
Maria Zélia Baptista ainda indicou às autoridades o nome do pai do filho (que baptizou de John), mas o homem – um cidadão italiano de 34 anos, empregado de mesa – negou a paternidade da criança e recusou casar com ela.
Numa tentativa de evitar a sua deportação, amigas e colegas de trabalho enviaram uma petição com mais de 2000 assinaturas ao Parlamento pedindo que a lei fosse «substituída pelo coração». Os subscritores comprometiam-se com a educação do menino. A iniciativa, porém, de nada serviu. O Parlamento rejeitou o abaixo-assinado com 33 votos contra e 13 a favor. A jovem madeirense deveria abandonar Jersey até ao dia 1 de Julho desse ano (a lei previa uma tolerância de um mês para que a pessoa pudesse reorganizar a sua vida).
Aos jornalistas, o senador Ralph Vibert, presidente da Comissão de Defesa da Ilha, disse: «Não tenho dúvida de que a portuguesa é uma rapariga muito simpática, mas se permitirmos a uma estrangeira permanecer na ilha depois de se tornar mãe de um bebé ilegítimo, abriremos precedente a milhares de transgressões».
E acrescentou: «As estrangeiras que vêm trabalhar para aqui devem compreender o modo como têm de comportar-se. Esperamos que elas não roubem, não se embriaguem, não tenham filhos ilegítimos nem se comportem de qualquer outra maneira menos própria.»
Uma segunda oportunidade
Decretado o repatriamento, Maria Zélia Baptista mudou-se para Londres (Inglaterra), onde lhe tinha sido oferecido alojamento e um oportunidade para iniciar uma nova vida. A jovem portuguesa, contudo, desejava voltar a Jersey, mas só o poderia fazer se entregasse o filho para adopção ou se se casasse.
A primeira hipótese foi de imediato descartada. Restava-lhe a segunda. Maria Zélia Baptista acabou por aceitar a proposta de casamento que um seu conhecido tinha feito quando soube da sua expulsão de Jersey. O enlace com Dennis Rogers, um corretor de apostas de 41 anos de idade, chegou a estar agendado para a Páscoa de 1970.
«Tenciono voltar a Jersey com o meu pequeno John. Dennis foi sempre muito gentil para mim durante o período difícil que vivi. Estive sempre em contacto com ele desde que tive que abandonar a ilha», contou, aos jornalistas.
No entanto, uma vez mais, a Lei alterou-lhe os planos. O seu irmão proibira-a de casar por ela ser católica e o noivo protestante, revelava o Diário de Notícias na edição de 1 de Abril de 1970. Fê-lo porque era o chefe de família, e a lei portuguesa dava-lhe essa autoridade. E a Maria Zélia Baptista não restou senão conformar-se com esta decisão.